segunda-feira, 20 de junho de 2011

COMANDO DA ATIVIDADE PARA COMPLEMENTAR A AVALIAÇÃO QUALITATIVA

GEO SUL 2011
COMANDO DA ATIVIDADE PARA COMPLEMENTAR A AVALIAÇÃO QUALITATIVA (2º BIM.)DOS 1º E 2º ANOS DO GEO SUL

1.LEIA ATENTAMENE O MATERIAL: DOIS ARTIGOS E UM VÍDEO
2. FAÇA UM BREVE COMENTÁRIO SOBRE CADA UM DELES (200 CARACTERES, NO MÁXIMO).
3. FAÇA UM BREVE COMENTÁRIO ENVOLVENDO O OBJETO DE ESTUDO DOS TRÊS.
4. ACEITAREMOS OS TRABALHOS ATÉ ÁS 23h59 DE SEXTA-FEIRA, DIA 25/06/2011.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A nova estrela da Educação

Publicação: 22 de Maio de 2011 às 00:00


O Rio Grande do Norte tem uma nova estrela e o seu nome brilha na mídia impulsionado por essa força extraordinária das ditas redes sociais. Falo, claro, da professora Amanda Gurgel. O seu pronunciamento feito na Assembleia Legislativa, num audiência pública sobre os problemas da Educação no Estado, foi (continua) mostrado num vídeo difundido no Youtube e no Twitter e, por sua vez reproduzido, milhares de vezes, em saites, blogues e coisas que tais, do país inteiro. Com o mesmo destaque vemos em chamadas de capa em todas as edições onlaine dos principais jornais do país.

Eu mesmo já ouvi a fala de Amanda Gurgel várias vezes. Em todas elas a emoção transborda em mim. Só na noite de quarta-feira foram cinco vezes rodando o vídeo. Na manhã de quinta, mais três, duas delas na companhia de Julinha, a neta de quatro anos vidrada em computador. Sentada na cadeira ao lado, Julinha batia palmas todas às vezes que ouvia e via a pequena plateia aplaudir as palavras da professora Amanda. A emoção do avô foi do mesmo tamanho da emoção do cidadão, no caso mais forte do que a da repórter, comedida. Não me lembro, nestes meus quase 60 anos de jomalismo ter anotado no recinto da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, um discurso tão carregado de verdade e de coragem cívica quanto este da professora Amanda.

Poucos neste país retrataram com tanto realismo o descaso com que o Governo (seja federal, estadual ou municipal) trata o problema da Educação. Impressionante a coragem e a naturalidade - a espontaneidade - de Amanda diante de alguns deputados presentes e da secretária de Educação do Estado. Falou de improviso, fez a sua denúncia e exibiu para todos o contra-cheque de 930 reais, o seu salário mensal. Olhando nos olhos dos senhores deputados, disse: “Com esse salário, os senhores não conseguiriam nem pagar a indumentária que usam para estar aqui”. Silêncio, no semblante de cada um dos representantes do povo um traço de constrangimento. “Eu sou realmente uma professora que pega três ônibus todos os dias para ir ao trabalho e não acho isso bonito. Eu não acho isso interessante. Eu acho que essa é uma situação de opressão”, disse Amanda ao repórter Isaac Lira, da Tribuna do Norte, para uma entrevista que foi publicada quinta-feira, 19, nove dias depois de seu pronunciamento na Assembleia Legislativa.

Outra coisa que chama atenção nessa história da professora Amanda Gurgel. A sua participação da audiência pública realizada na Assembleia Legislativa não mereceu nenhum registro na imprensa local. Nem nos jornais impressos, nem nas colunas políticas, nem na televisão, nem nos blogues. Nem nos rilizes oficiais da própria Assembleia, promotora do debate. A notícia só chegou às redações locais, oito dias depois por conta da explosão provocada pela divulgação do vídeo no Youtube. A imprensa local ficou engolindo mosca esse tempo todo. Não procurou ouvir sequer a opinião dos deputados sobre a denúncia grave da professora.

Tem outro detalhe que “descobri” vendo o rosto jovem e bonito da professora Amanda, sua voz firme, corajosa, clara, fazendo didaticamente uma denúncia grave, o brilho de seus olhos, os cabelos cacheados caindo pelos ombros. Vi e revi essa imagem várias vezes nas repetições do vídeo, conferi na reportagem da Tribuna do Norte e na entrevista que ela deu para TV Cabugi. Vi no rosto da professora Amanda Gurgel semelhança forte com o rosto de Nísia Floresta Brasileira Augusta. Mais nitidamente forte ainda na comparação dos cachos, no jeito dos cabelos. Nisia Floresta, nascida Dionísia Gonçalves Pinto, naqueles tabuleiros de Papari, a poeta, a escritora, a feminista, a educadora, a rebelde, a revolucionária de A lágrima de um Caeté.

Liguei para um velho amigo, poeta, kardecista de muita fé, e também catequista que às vezes usa do púlpito para socorrer amigos sonâmbulos de crenças. Disse-Ihe dessa minha imaginação entre a professora Amanda Gurgel e a escritora Nísia Floresta, ambas educadoras, a semelhança física entre as duas que eu constatara comparando suas fotografias, os mesmos cabelos cacheados das duas mulheres rebeldes, corajosas, o jeito que elas usaram - Nísia no seu tempo, há 150 anos, e Amanda, agora, no tempo presente - para defender a causa da Educação. O amigo riu, o riso tranquilo dos que sabem das coisas, mesmo no trato com incréus, uns tantos e outros meio ‘ímpios, e disse: “Nós todos somos encarnações e reencarnações. Nísia pode ter voltado”. E antes de desligar o telefone, perguntou sobre a sangria do Açude Gargalheira e recomendou que eu relesse Opúsculo Humanitário.

Trata-se de um livro de Nísia Floresta, cuja segunda edição (a primeira é de 1853, Rio de Janeiro, Typographia de M.A.Silvia Lima) foi publicada em 1989 pela Fundação José Augusto, quando eu andei por lá, numa parceria com a Cortez Editora, de São Paulo. O livro reúne artigos que Nísia publicou em jornais do Rio de Janeiro. A edição tem uma introdução e notas de Peggy Sharpe-Valadares, professora e escritora norte-americana, com posfácio de Constância Lima Duarte, escritora e professora mineira, a mais importante biógrafa de Nísia Floresta:

- As mulheres romanas assinalaram-se por heróicas virtudes, de que as mulheres modernas não têm dado ainda, como elas, exemplos. Porém, déspotas tais como os romanos não podiam compreender e ministrar à mulher a educação que convém. Os déspotas querem escravos que se submetam humilde e cegamente à execução de suas vontades, e não a inteligência que se opunham a elas e ensinem aos povos a sacudir o seu jogo. Fácil Ihes foi, pois, deixaram na ignorância essa parte da humanidade a quem Deus sem sua paternal previdência aquinhoou de maior porção de bondade doçura

- Quanto mais ignorante é um povo tanto mais fácil é a um governo absoluto exercer sobre ele o se ilimitado poder. É partindo deste principio, tão contrário à marcha progressiva da civilização, que a maior parte dos homens se opõe a que se facilite à mulher os meios de cultivar o seu espírito. Porém, é este um erro que foi e será sempre funesto à prosperidade das nações, como à ventura doméstica do homem.

- A falta de uma boa educação é a causa capital que contribui para que a mulher, no meio da corrupção da sociedade, perca esse norte, o qual não é outro mais que a moral.

No último relatório do ministro do Império, dando conta, ‘à Assembleia Geral, da comissão de que fora encarregado às províncias do Norte o nosso distinto poeta Gonçalves Dias, achamos uma prova do que acabamos de expender: “A desarmonia em que se acham as disposições legislativas de cada província, relativas a tão importantíssimo objeto, a deficiência do método de ensino das matérias, a multiplicidade e má escolha de livros para uso das escolas, o programa de estudos nos estabelecimentos literários, a insuficiente inspecção em alguns lugares e a quase nenhuma em outros, e, finalmente, a pouca frequência e assiduidade dos alunos, são outras tantas causas desse estado tão pouco próspero (...). De tudo isso resulta a necessidade de uma reforma radical na instrução pública, dando-lhe um centro de unidade e de ação que a torne uniforme por toda a parte, e vá gradualmente extirpando os vícios e defeitos que têm até obstado ao seu progresso e desenvolvimento”.

Amanda Gurgel repete Nísia Floresta que repetiu Gonçalves Dias. Me chega Carlos Drummond de Andrade e sussurra pelo corredor: “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.”
Artigo de Wodem Madruga, jornalista da Tribuna do Norte em Natal

PROFESSORA AMANDA GURGEL SILENCIA AUTORIDADES

Professora Amanda Gurgel silencia Deputados em audiência pública. Depoimento Resumindo o quadro da Educação no Brasil. Educadora fala sobre condições precárias de trabalho no RN/BRASIL. (10/05/2011)

TRAGÉDIA EM REALENGO: VISÃO DE UMA EDUCADORA

 
Encaminhando...
Às Autoridades deste país,
Li tudo que pude, publicado até o presente momento, a respeito da tragédia acontecida na escola do Realengo, no Rio de Janeiro.
E meditei muito antes de tomar a decisão de escrever este pequeno texto.
Não gostei, de forma alguma, de nenhuma das declarações: da Exma. Sra. Presidente da República, do Exmo. Sr. Ministro da Educação e do Exmo. Sr. Governador do Rio de Janeiro.
Da Presidente Dilma, em quem votei, discordo da afirmação de que o acontecimento não faz parte da cultura brasileira.
Do Ministro da Educação, discordo de sua declaração, agora, após este acontecimento, de que a Educação brasileira está de luto.
Do Governador do Rio de Janeiro, discordo de sua qualificação sobre o assassino dos estudantes como um animal.
Minhas refutações:
Ø  a Presidente só tem razão quanto à forma e não quanto ao conteúdo: a forma do assassinato coletivo em escolas, à moda norte-americana, de fato, não era usual em nossas práticas sociais, até agora. Mas quanto ao conteúdo, Sra. Presidente, ignorar que a violência está presente no cotidiano de nossas escolas, é tapar o sol com a peneira. É retórica. A violência está presente, há muito tempo, nas escolas, sob as mais diversas formas: agressões entre alunos, de alunos contra professores, e, mesmo em escala menor, de professores contra alunos.
Ø  Em decorrência, acho que está refutada a fala do Ministro. Por que só agora, quando a tragédia é coletiva, o Sr. Ministro vem a público para dizer que a Educação está de luto?  Faz muito tempo, décadas, que a Educação brasileira está de luto, não apenas pela violência que grassa no meio escolar, mas também pela omissão dos nossos governantes ante a própria educação.
Ø  Sobre a fala do Sr. Governador do Rio de Janeiro: é muito fácil achar um bode expiatório e – desculpem a expressão – “tirar da seringa”. Neste discurso, a fala oficial quer atribuir a um indivíduo – autor material do crime - toda a culpabilidade. Assim fazendo, escamoteia-se a responsabilidade dos governantes.
A Escola vem sendo um dos mais expressivos espaços de violência de nossa sociedade. Tanto a pública quanto a privada. Basta ler os noticiários.
A Educação, notadamente a pública, aquela apenas à qual pode aceder a grande parte da população brasileira, está no abandono. Reconheço que não faltam políticas públicas para uma série de aspectos a ela referentes, como cursos para qualificação de professores, cursos direcionados para o respeito às diversidades, cursos direcionados para os Direitos Humanos, etc etc etc, mas faltam medidas efetivas para garantir a segurança nas Escolas, de  alunos e professores; faltam políticas fortes e concretas de combate às drogas (um dos maiores, senão o maior, fatores da violência escolar).
Faltam políticas fortes para criar valores moralmente sadios na infância e na juventude. Por que? Porque a sociedade contemporânea, nutrida diariamente por anti-valores humanos, como o consumismo desenfreado, a competitividade destrutiva, o individualismo exacerbado, vem sistematicamente implodindo valores necessários à produção/reprodução de uma sociedade: um mínimo de direcionamento para a existência humana como referência fundamental e magnífica – a vida como valor; de cooperação societária, de perspectiva e engajamento coletivos.
O magistério, essa outrora profissão respeitada - e essencial a qualquer sociedade para que se concretize a transmissão do patrimônio cultural de uma geração a outra, para que a geração mais nova possa elaborar, no seu tempo histórico, o seu patrimônio cultural – vem sendo desqualificado, conspurcado, aviltado, desrespeitado pelos vários segmentos sociais, a começar de nossos governantes. Não precisamos ir longe: vários estados brasileiros (leia-se: seus governantes), estavam se recusando a pagar um piso salarial para os professores da Educação Básica, sob a alegação de que as contas dos estados e municípios não suportariam os custos e de que o piso salarial seria inconstitucional. . Mas ... a União, os estados e municípios suportam (!!!) os custos de empreguismo sem concurso de parentes e aderentes, de falcatruas com o dinheiro público, de licitações direcionadas e tortuosas, de não obediência dos dispositivos legais sobre gastos públicos, .... contra isto, os governantes não se indignam. Ao contrário: posam de virgens imaculadas.
Quando uma professora do Rio Grande do Sul foi agredida, recentemente, fato amplamente divulgado pela mídia, por um aluno com uma cadeira, o Ministro da Educação não se pronunciou. Tantos episódios de agressão nas Escolas! E o Sr. Ministro da Educação não se pronunciou. Por que o fez agora? Por que o assassinato da Escola do Rio de Janeiro não só foi coletivo como, principalmente, reverberou na mídia fortemente ... e na mídia internacional. E aí, a preocupação parece ter sido muito mais o arranhamento que isto possa produzir na imagem do Rio de Janeiro com vistas à Copa do Mundo e às Olimpíadas. Do que o fato em si. Porque as imagens mascaradas da realidade, nestes discursos, parecem valer mais do que a própria realidade.
Aí, só ai, a Educação se fez de luto? É brincadeira, Sr. Ministro. Não nos tome por idiotas.
Igualmente. Sr. Governador Sérgio Cabral, não nos tome por idiotas.
Quando li sua infeliz e preconceituosa declaração sobre o assassino, o primeiro cuidado que tive, foi tentar saber quem ele era. Suspeitei que era alguém cuja vida seria uma dessas vidas – tantas vidas jovens! – desperdiçadas deste país. Por falta de Educação. E é. Somente olhando para o rosto do jovem e depois lendo o bilhete de despedida que deixou, muita coisa pode se analisada. Primeiramente, apesar da declaração de sua irmã, de que ele seria professo do islamismo, não coloquemos a pecha maldita sobre esta religião que tem uma profunda e admirável relação com a divindade, tanto quanto outras religiões. Cuidado com nossos preconceitos de estigmatizarmos o Outro, especialmente quando o Outro nos agride, como neste caso. Nunca paramos para pensar que nós também agredimos o Outro, porque é mais cômodo.  Porque o recado final do trágico assassino fala em Jesus, portanto ... porque a figura de Jesus é mais própria de nossa cultura ocidental do que da cultura islâmica. Cuidado com qualificativos de primeira hora.
Ademais, Sr. Governador, é muito fácil, como eu já disse, achar o bode expiatório e se eximir das responsabilidade dos gestores públicos: o assassino entrou na escola como bem quis, sem controle de segurança. A maioria esmagadoríssima das escolas desse país não tem esquema de segurança. Nem as elites estão a salvo em suas escolas privadas.
Agora, chamar o assassino de animal pode ser alvo de várias contestações, inclusive judiciais. Talvez a intenção de Vossa Excelência tenha sido atribuir ao assassino a falta de razão que os animais não teriam. Porém, deixo aqui alguns modestos questionamentos: 1º) Vossa Excelência ofendeu aos animais, cujo reino nos pode transmitir muita sabedoria, para a qual, infelizmente, o ser humano não atenta; 2º) Tem muito ser humano desprovido de razão, por uma série  de justificativas, entre as quais, porque não foi educado para usar a razão; 3º) Muitos seres humanos auto-considerados racionais, auto- carimbados de racionais, especialmente porque vêm de classes dominantes e têm diplomas universitários e são nossos governantes, cometem desatinos que animais não cometeriam, como permitirem que pessoas se instalem em áreas de risco ambiental, sem regras e sem freios de dispositivos legais públicos, causando tragédias a exemplo das acontecidas no Morro do Bumba (Angra dos Reis), em Petrópolis e Teresópolis. E tantos outros exemplos, em cada um dos estados brasileiros.
Animal? Quem é animal?
Quem é animal no sentido da desrazão?
Só pode ter desrazão quem tem a razão como qualificativo ontológico do seu ser. Esse assassino suicida pode não ter tido a chance da razão na sua vida.
Mas muita gente que se acha, que acha que teve e tem a razão, continua confundindo que tem (equivocadamente) a razão, quando o que tem, não passa de uma miopia.
O assassino dos estudantes da escola do Realengo carrega muita gente para a morte.  E não são, apenas, os estudantes que, efetivamente, morreram por ele assassinados.
Que destas mortes, oxalá, emerja uma cáustica reflexão sobre os nossos erros em relação à educação brasileira. Que esses estudantes mortos e seu assassino brotem em flores, como flores, de uma outra educação, mais igualitária, emancipatória, igualitária.
8/04/2011
Rosa Godoy
Universidade Federal da Paraíba